Um método que concentra todo o processo de planejar e implementar a estratégia na resposta a cinco perguntas: onde estamos? para onde vamos? Como chegar lá? Quais são os projetos estratégicos? Como fazer acontecer? A maioria das empresas faz planejamento estratégico, mas falha em sua implementação. Contribuem para isso a falta de disciplina, a baixa motivação para realizar as atividades, as dificuldades em aglutinar pessoas, fazer reuniões e cumprir as etapas e, principalmente, a necessidade de entregar resultados na complexa rotina do dia a dia.
Trabalhando com planejamento e gestão estratégica desde o início da carreira, pudemos usar muitos e excelentes métodos existentes na literatura, além dos desenvolvidos internamente por empresas e não publicados, como também os nossos próprios instrumentos. Quando bem feitos, os métodos costumam oferecer sessões para um entendimento inicial; em seguida, um diagnóstico da organização para identificar pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças, analisar os concorrentes e definir benchmarking; então, vem a fase de colocar os objetivos quantitativos, detalhar as estratégias e avaliar os investimentos necessários. Com o plano pronto, começam-se sua implementação e revisão permanente, na chamada gestão estratégica.
Em diversos de nossos projetos, chamavam a atenção quatro lacunas nos métodos de planejamento. A primeira é que parte desses métodos sugere em suas etapas utilizarmos as ferramentas clássicas e sofisticadas, tais como as grandes contribuições criadas por Michael Porter e Harry Ansoff, bem como a Matriz GE, Matriz BCG e o modelo Canvas, entre outros importantes avanços da literatura de negócios. Porém, como são ferramentas que permitem análises amplas, quando terminávamos o preenchimento delas, os resultados (outputs) cabiam em mais de uma etapa de um plano estratégico, trazendo muitas vezes sobreposição de análises e dificuldade de colocar seus resultados em uma sequência mais racional.
A segunda lacuna é que a maioria dos métodos considera a empresa de forma isolada. Falta vê-la como uma rede integrada de fornecedores, canais, concorrentes, prestadores de serviços, enfim, todo o ecossistema de contratos e de negócios.
A terceira lacuna consiste na pouca atenção dada às ações coletivas. Estas podem ser entre empresas que atingem o mesmo mercado com produtos não concorrentes (por exemplo, ao compartilharem a distribuição) ou entre concorrentes, seja participando de esforços de propaganda coletiva para aumentar o tamanho do mercado, seja integrando ações de defesa da indústria, entre outras iniciativas.
Finalmente, a quarta lacuna é que, em parte dos métodos, a relevante discussão da importância das pessoas fica de fora. Falta incluir na equação a motivação, o desenvolvimento dos talentos necessários não apenas para gerir o plano, como também para trazer resultados às organizações, e o esforço para fazer do sofisticado processo de planejamento algo prazeroso e estimulador.
Em nossa proposta, procuramos suprir essas quatro lacunas. Além disso, almejamos propor algo mais simples em termos de sequência, mais disciplinado no sentido de ver onde cabe cada tipo de análise e mais prazeroso em sua realização. Sem perder a riqueza das análises trazidas pelos autores clássicos, procuramos enxergar a empresa como uma rede integrada e que se envolve em ações coletivas.
Batizado de Enjoy, o método tem os intuitos de simplificar o planejamento estratégico e aglutinar um grupo de pessoas em torno de três objetivos principais. O primeiro é orientar a empresa a prestar atenção e realizar o que é demandado pelo mercado. Ou seja, ser muito criteriosa em entender que problemas existem e como resolvê-los, e não oferecer apenas o que se sabe fazer e se imagina que o mercado deseja. O segundo envolve construir resultados para quem demanda os produtos ou serviços da empresa. Isto é, além de se fazer o desejado, executá-lo de forma eficiente ou correta, entregando resultados para quem usará o produto ou serviço. E o terceiro, não menos importante, abrange contribuir com o necessário processo de gerar oportunidades às pessoas, como consequência do crescimento da empresa e de sua rede de negócios, levando à criação de mais empregos, ao desenvolvimento e à inclusão social.
O método organiza-se em cinco perguntas principais:
1.Onde estamos?: Partindo do desenho da rede integrada (ecossistema) da empresa para fazer as análises interna e externa;
2.Para onde vamos? Definindo a filosofia orientadora e a proposta de valor para chegar a uma lista de objetivos e metas;
3.Como chegar lá? Abordando como fazer para atingir os objetivos, fortalecendo as possibilidades de ações coletivas e cooperativas;
4.Quais são os projetos estratégicos? Evoluindo para a tentativa de se aglutinar tudo o que surgiu até o momento de oportunidades;
5.Como fazer acontecer? Com as ações necessárias, em um processo que visa à descoberta, à formação e ao engajamento de talentos. Afinal, são as pessoas que fazem o diferencial nas organizações.
O MÉTODO ENJOY DE PLANEJAMENTO E GESTÃO ESTRATÉGICA
1. ONDE ESTAMOS?
BÁSICO:
ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO:
ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO:
Output da primeira pergunta: lista final de oportunidades e atividades internas necessárias para compor projetos estratégicos.
2. PARA ONDE VAMOS?
Output da segunda pergunta: lista final de objetivos para a empresa e nova proposta de valor (se necessário).
3. COMO CHEGAR LÁ?
Output da terceira pergunta: lista de possibilidades de estratégias ou projetos estratégicos.
4. QUAIS SÃO OS PROJETOS ESTRATÉGICOS?
Output da quarta pergunta: projetos estratégicos prontos para começar.
5. COMO FAZER ACONTECER?
Output da quinta pergunta: plano em execução, com clima organizacional estimulante e prazeroso.
Artigo escrito por Marcos Favas Neves - Professor da FGV EAESP e da FEA-RP/USP